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domingo, 12 de junho de 2011

Interpretação de textos.


Um dos textos que mais gosto!
Texto.
Vocações

Todos diziam que a Leninha, quando crescesse, ia ser médica. Passava horas brincando de médico com as bonecas. Só que, ao contrário de outras crianças, quando largou as bonecas não perdeu a mania. A primeira vez que tocou no rosto do namorado foi para ver se estava com febre. Só na segunda é que foi carinho. Ia porque ia ser médica. Só tinha uma coisa. Não podia ver sangue.
“Mas, Leninha, como é que . . .”
“Deixa, que eu me arranjo.”
Não é que ela tivesse nojo de sangue. Desmaiava. Não podia ver carne malpassada. Ou ketchup. Um arranhãozinho era o bastante para derrubá-la. Se o arranhão fosse em outra pessoa ela corria para socorrê-la – era o instinto médico –, mas botava o curativo com o rosto virado.
“Acertei ? Acertei ?”
“Acertou o joelho. Só que é na outra perna !”
Mas fez o vestibular para a medicina, passou e preparou-se para começar o curso.
“E as aulas de Anatomia, Leninha? Os cadáveres?”
“Deixa que eu me arranjo.”
Fez um trato com a Olga, colega desde o secundário. Quando abrissem um cadáver, fecharia os olhos. A Olga descreveria tudo para ela.
“Agora estão tirando o fígado. Tem uma cor meio...”
“Por favor. Sem detalhes.”
Conseguiu fazer todo o curso de medicina sem ver uma gota de sangue. Houve momentos em que precisou explicar os olhos fechados.
“É concentração, professor.”
Mas se formou. Hoje é médica, de sucesso. Não na cirurgia, claro. Se bem que chegou a pensar em convidar a Olga para fazerem uma dupla cirúrgica, ela operando com o rosto virado e a Olga dando as coordenadas.
“Mais à esquerda... Aí. Agora corta!”
Está feliz. Inclusive se casou, pois encontrou uma alma gêmea. Foi num aeroporto. No bar onde foi tomar um cafezinho enquanto esperava a chamada para o embarque puxou conversa com um homem que parecia muito nervoso.
“Algum problema?” – perguntou, pronta para medicá-lo.
“Não” – tentou sorrir o homem. “É o avião...”
“Você tem medo de voar?”
“Pavor. Sempre tive.”
“Então por que voa?”
“Na minha profissão é preciso”
“Qual é a sua profissão?”
“Piloto.”
Casaram-se uma semana depois.
(Luís Fernando Veríssimo)



Interpretação de textos.

01. O par de palavras que serve para caracterizar Leninha é:
a) dedicada / fútil
b) frívola / piedosa
c) violenta / ansiosa
d) ingênua / revoltada
e) consciente / solidária

02. “Carne malpassada /ketchup/ arranhão /cadáveres”. Esta série de palavras, em relação à Leninha pode ser traduzida como:
a) temor exagerado;
b) perda da consciência;
c) descontrole emocional;
d) materialização dos temores;
e) valorização dos dados emocionais.

03. Na vida acadêmica de Leninha, o papel de Olga foi ser:
a) simples coadjuvante;
b) apenas porta-voz das ocorrências;
c) de grande importância como orientadora;
d) portadora dos sentidos que a amiga se negava a usar;
e) assessora dos mestres, acrescentando o necessário para ajudá-la.

04. O texto, com o final feliz de Leninha, prova que, no fundo, a vida dela constituiu-se de:
a) certezas;        d) dúvidas;
b) tristezas;        e) angústias.
c) virtudes;

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